O município de Sangão recebeu, no último mês, pesquisadoras do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). O Objetivo foi montar um dossiê sobre os saberes e fazeres relacionados aos engenhos de farinha de mandioca de Sangão, com o intuito de subsidiar o pedido de registro do bem como patrimônio cultural brasileiro.
A encontro foi dividido em dois períodos. Na parte da manhã, visitaram o engenho de propriedade do Sr. Realdo Manoel Rocha, cuja marca é a Agricultura / Agronegócio Familiar. Na oportunidade, seu pai, Manoel Antônio Rocha, contou um pouco da sua história: de como era o engenho no passado e todas as mudanças pelas quais passou até hoje. Tudo foi registrado sob o olhar e ouvidos atentos dos visitantes. Já no período da tarde, os participantes visitaram a empresa Rocha Alimentos. O Sr. Claudeci Rocha, sócio proprietário do empreendimento, e seu filho Cloudo Rocha, CEO da empresa, contaram um pouco da história da família e da tradição agrícola que foi passada de geração a geração. Na sequência foi mostrada aos visitantes a empresa in loco. Foram conhecidos vários setores de produção. Destaque para o setor de pesquisa e desenvolvimento, onde são criados diversos produtos à base da mandioca. A empresa vem, nos últimos anos, se tornando uma potência nacional e exportando itens para diversos países.
Além de Sangão, as pesquisadoras já passaram por outros municípios, como Imaruí, Imbituba e Garopaba. O município de Sangão é um dos maiores produtores de farinha do estado. Possui uma história riquíssima sobre a cultura da mandioca e conta atualmente com 6 engenhos em operação. Por tais motivos, vieram ampliar conhecimentos sobre a cadeia produtiva da Mandioca, desde o passado até o presente.
A visita, organizada pelo Engº Agrônomo do município de Sangão, Marco Antônio Remor, contou com a presença das pesquisadoras Alicia Norma Gonzalez de Castells, Professora voluntária no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) e Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Ana Cristina Rodrigues Guimarães - Pós-doutoranda em Antropologia Social (PPGAS - UFSC); e Carla Cruz – Representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/SC), da Extensionista da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), Lilian Gonçalves dos Santos; da Técnica da Secretaria Municipal de Agricultura de Sangão, Valdira Soares Perdoná; e da Diretora de Cultura e Turismo, Deise Formentin.
Segundo Remor, a cadeia produtiva da mandioca compreende muitos instrumentos que vão além do produtor rural responsável pelo plantio e colheita. Envolve vários atores da sociedade e possui papel importante tanto na economia como também na cultura local. Neste sentido, é preciso que o poder público, juntamente com demais entidades, busquem formas de fomento para esta importante cadeia produtiva. E o reconhecimento dos engenhos de farinha como patrimônio cultural brasileiro é certamente um deles.
Remor ainda destaca que a “mandioca - essa planta de clima quente - foi colocada no solo pela primeira vez pelos nativos índios, plantando-se um pedaço de caule chamado rama. Dali tudo começou. Brotou”. Depois, essa conexão se ampliou. Veio a industrialização, fruto da troca de conhecimento do Índio com o Imigrante Europeu. Por isso, essa história deve ser registrada.
As pesquisadoras da UFSC e do IPFAM são as pessoas ideais para relatarem os fatos histórico, pois detém expertise na área. A cultura necessita ser valorizada no todo, e elas resgatam e trazem à tona uma história que até então estava perdida. Dessa forma, entender que o processo do cultivo da mandioca vem desde os primórdios, dos indígenas das Américas até o contato com os primeiros imigrantes, torna-se fundamental para se compreender a cultura mandioqueira como patrimônio histórico nacional e sua importância para a antropologia, salienta Remor.
Para Valdira Soares Perdoná, “é importante que isso desperte ainda mais pesquisas na área, pois somos descendentes diretos de Portugueses, que foram os primeiros a trazer técnicas de plantio dessa planta tão rica, o nosso ‘ouro branco’. O registro da farinha de mandioca como patrimônio cultural brasileiro será, sem dúvidas, um orgulho para todos os cidadãos sangãoenses”.
Para Deise Formentin, Diretora de Cultura e Turismo do município de Sangão, o conceito de cadeia produtiva da mandioca possui uma visão sistêmica, em que a informação histórica reflete a sua importância sociocultural, algo que remonta desde a povoação indígena difundida na américa pré-colombiana, há mais de 10.000 anos.
“Acompanhar todo esse processo e ter a chance de visitar esses produtores/agricultores é maravilhoso. Mostra que a região de Sangão tem um potencial gigantesco a ser explorado. Dá orgulho saber o tanto que se produz aqui. Produtos incríveis e de excelente qualidade que eram produzidos de forma tão simples e artesanal no passado por nossos antepassados, com tanta dificuldade, e que hoje, produzidos com o auxílio da tecnologia de ponta, são enviados para o Brasil e para o mundo, levando consigo o nome do nosso município, relata Deise Formentin.
A Diretora ressalta ainda que o Departamento de Cultura de Sangão valoriza muito os conhecimentos do passado. Aliás, o cultivo de mandioca está intrinsicamente ligado à população de Sangão. Assim, os aprendizados de outrora devem ser registrados pelos pesquisadores e apoiados por lideranças municipais, servindo como um importante instrumento para o planejamento estratégico do município e região, complementa Deise.
Fonte: Deise Formentin, Diretora de Cultura e Turismo do município de Sangão. Marco Antonio Remor, Eng.º agrônomo da Secretaria Municipal de Agricultura de Sangão.