O sistema convencional de cultivo, utilizado na maioria das lavouras brasileiras, provoca alguns malefícios ao meio ambiente. Dentre eles, a erosão do solo, por meio de grandes perdas de terras férteis, ocasionadas principalmente pela falta de cuidados essenciais do solo e pelo desmatamento. Com a cultura da mandioca isso não é diferente. A forma convencional, baseada em lavouras sem a devida cobertura de solo, faz com que muitas áreas produtivas se deteriorem rapidamente, diminuindo assim a qualidade das raízes, bem como a quantidade de toneladas por hectare.
Entretanto, nos últimos anos esse cenário vem mudando drasticamente. O uso de novas formas de plantio, mais eficientes e menos agressivas ao meio ambiente, vem ganhando espaço no meio rural. Em Sangão, um dos maiores municípios produtores de mandioca do estado de Santa Catarina, esses novos meios de produção já são uma realidade. Hoje, muitos produtores já aderiram ao plantio direto no município. Isso se de deve em grande parte pelo esforço conjunto entre poder público, produtores rurais e entidades não governamentais, que, ao longo dos anos, mostrou a viabilidade econômica, social e ambiental dessas novas formas de plantio.
Atualmente, a Secretaria de Agricultura do município de Sangão executa um programa de distribuição de sementes, que visa combater a erosão do solo, diminuindo drasticamente as perdas, na ordem média de 30 toneladas / hectare / safra, e mantendo a umidade da terra em parâmetros ideais para as lavouras. Aliás, terra e água são essenciais para uma boa produtividade.
Hoje, no município de Sangão são produzidas 210.000 sacas de farinha/ano e 50 mil sacos de fécula/ano de mandioca. Ao todo são 942 hectares de área plantada. Para atender toda essa demanda, o município de Sangão realiza anualmente doação de sementes de aveia preta para cobertura de solo das lavouras. Para esse ano de 2023, são exatamente 14.000 kg para a prática do plantio direto SPD, principalmente nas lavouras de mandioca.
Dada a relevância do programa em Sangão, a Associação das Indústrias Processadores da Mandioca e Derivados de Santa Catarina (AIMSC) protocolou junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) a inclusão da cadeia produtiva da mandioca no Programa Nacional de Cadeias Agropecuárias Descarbonizadas (Programa Carbono + Verde). Segundo o presidente da AIMSC, Sr. Gilvan Simão de Carvalho, a cultura da mandioca possui grande relevância econômica e social para o Brasil. Está presente em todos os estados brasileiros, figurando-se entre os oito primeiros produtos agrícolas do país, em termos de área cultivada, e o sexto em valor de produção. Do total de raízes produzidas, 40% são destinadas para a produção de farinha, 20% para a produção de amido e o restante é destinado a outros usos, como mandioca de mesa e alimentação animal, portanto de significativa contribuição para a segurança alimentar de muitas famílias brasileiras, constituindo-se como base econômica em milhares de pequenas propriedades rurais espalhadas por todo o país.
Para Marco Antônio Rangel, Agrônomo da EMBRAPA - um dos técnicos responsáveis pelo o estudo de sustentabilidade dos sistemas de produção de mandioca (Maniot Esculenta Cratz) - o plantio direto da Mandioca é uma técnica de plantio feita sobre a palhada da aveia, capaz de aumentar em muito a produtividade da mandioca, em até 50%, tornando as lavouras mais eficientes e sustentáveis. Inclusive com aumentos significativos de produtividade das raízes, com destaque para a produção em dois ciclos, diminuindo assim as perdas de nutrientes do solo, causadas pela erosão e por outros fatores ocasionados pelo uso do plantio convencional.
Segundo o Engenheiro Agrônomo do Município de Sangão Sr. Marco Remor, muitos agricultores passaram a utilizar esta técnica de plantio por verificar os benefícios econômicos e ambientais. Ainda, de acordo com Remor, o trabalho que vem sendo desenvolvido a mais de 25 anos no município de Sangão mostra que o plantio direto proporcionou um ganho expressivo de produtividade nas lavouras. “Hoje, há uma crescente procura por sementes de cobertura do solo, que são doadas pela Prefeitura de Sangão. A distribuição gratuita dessas sementes estimula a difusão do sistema de plantio SPD nas roças locais. Isso evidencia que uso dessa técnica é economicamente viável e deve ser aplicada em larga escala nas lavouras de mandioca, demonstrando assim a sua importância no quesito produção sustentável”, salienta REMOR. Ele explica ainda que “uma cobertura de palha acima de 8 ton. /hectare, ou seja, bem consistente, tem demonstrado uma alta eficiência na conservação do solo e da água nas lavouras Sangãoenses”.
É a situação do Sr. Joílson Alceu Pacheco, produtor e processador de raízes de mandioca em Sangão. Numa área de 1,75 hectares, a Secretaria Municipal de Agricultura desenvolve desde 2009 um trabalho de aumento de produtividade e combate à erosão do solo. Igualmente, a ação da extensão Rural como facilitadora do trabalho sustentável leva a eficiência da técnica do plantio direto a todos os produtores locais. Tal ação é demonstrado no quadro evolutivo ao longo de anos. Nesta área, o cultivo convencional foi usado até 2009/2010 e, na sequência, o cultivo no sistema de plantio direto. Com a introdução do sistema de plantio direto após a safra 2010/2011, resultou num incremento de 326,32% a mais quando comparado ao sistema antigo, o "convencional" anterior a 2010. Ou seja, a produtividade média com base nas safras desde 2010 a 2023 é de 25.579 kg por hectare na gleba estudada, enquanto a safra de 2009 retirava da terra somente 6.000 kg por hectare.
Iniciativas individuais, como a realizada pelo município de Sangão, são exemplos de que a transferência de tecnologia, por meio de estímulos governamentais, promove em muito o aumento de produção local, a conservação do solo e da água. Além de proteger o meio ambiente, também geram lucro aos produtores rurais, pois aumenta a produtividade da lavoura. Nesse processo, quem sai ganhando é a sociedade como um todo.
Para o Sr. Helton da Silva, consultor da AIMSC, “a cadeia produtiva da mandioca merece fazer parte do Programa Nacional de Cadeias Agropecuárias Descarbonizadas (Programa Carbono + Verde), pois além de incluir uma quantidade significativa de famílias agricultoras, que têm a mandioca como principal fonte de renda e sustento, merecem incentivos fomentadores para uma agricultura sustentável, a fim de se intensificar o belo trabalho que fazem há anos, por meio do uso racional da terra, preservação do meio ambiente e produção sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações”.